RTraçamos a história das mudanças nas tendências de transferências na AFC Champions League e perspetivamos o que o futuro reserva.
O futebol de clubes asiático, que antes era um assunto relativamente provinciano, tornou-se algo muito mais cosmopolita nos últimos anos. As competições de clubes no continente (que agora incluem a AFC Champions League Elite, a AFC Champions League Two e a AFC Challenge League) não apenas elevaram o que acontece em campo, mas também redesenharam silenciosamente o mapa de recrutamento para clubes, jogadores e agentes, de Tóquio a Teerão.
O Local Antes do Global: Os Primeiros Dias
Se recuarmos algumas décadas, o clube médio de futebol asiático parecia bastante diferente. Havia os pilares locais — muitas vezes jogadores que nunca tinham posto os pés fora da sua província, quanto mais do seu país.
Quando a AFC Champions League nasceu em 2003, substituindo o antigo Campeonato de Clubes da Ásia, em muitos países do continente a maioria dos estrangeiros tendia a ser brasileira,geralmente avançados, com alguns médios criativos. Ainda existia uma mística em torno dessa nacionalidade, com a Seleção tendo acabado de ganhar o seu quinto Campeonato do Mundo em 2002 e ainda havia a sensação de que ter um avançado brasileiro era o caminho a seguir e um atalho para o sucesso.
A viver na Coreia, quase todas as equipas da K-League tinham pelo menos um. Era impressionante ver a rotatividade. Alguns foram grandes sucessos, outros cumpriram, alguns simplesmente não se adaptaram a uma liga física com uma cultura muito diferente dentro e fora de campo, e muitos passaram sem deixar qualquer marca ou memória. Mas a rotatividade continuou, com os clubes a trabalharem repetidamente com os mesmos agentes.
Na altura, havia pouco scouting, devido às restrições de tempo e custo das viagens. Não havia viagens da Ásia Oriental para a América do Sul para verificar talentos pessoalmente, e os meios de análise de vídeo eram limitados – uma situação muito diferente do panorama de scouting de hoje com o Hudl Wyscout, que cobre mais de 600 competições em todo o mundo.
A Chegada da Champions League
O antigo Campeonato de Clubes da Ásia era um evento discreto, disputado em grupos centralizados com a fase a eliminar num só país. A Champions League chegou no início dos anos 2000, envolvida em promessas de reforma, contratos de televisão e prestígio. Não era apenas um novo nome. O torneio era mais longo, mais profissional e — crucialmente — valia mais dinheiro. Havia mais jogos e mais interação com equipas de outros países e outras regiões.
Mas não se tratava apenas disso. Cada vez mais jogos contra equipas de toda a Ásia levou os clubes a prestar mais atenção às abordagens de recrutamento noutras ligas e clubes. Naquela altura, as equipas no Japão e na Coreia do Sul, por exemplo, conseguiam em grande parte competir financeiramente com os clubes do Golfo, mas o recrutamento no Médio Oriente era um pouco mais variado do que no Leste Asiático.
A agora lendária equipa do Al-Ittihad de 2004 e 2005 mostrou o caminho, e não apenas porque a equipa de Jeddah continua a ser a única na história da Champions League a defender com sucesso o título.
Sob o comando do treinador Anghel Iordanescu, a equipa contava com uma mistura interessante de jogadores estrangeiros. Havia, claro, um médio ofensivo brasileiro, Tcheco, subestimado e uma das estrelas da competição, mas também Mohammed Kallon da Serra Leoa no ataque. Havia também a estrela dos Camarões Joseph Desire-Job, emprestado pelo Middlesbrough.
A Quota Asiática
A renovada Champions League ajudou a trazer uma visão mais ampla para os clubes de outros lugares. Por exemplo, o Seongnam Ilhwa Chuma venceu o título de 2010 com um talentoso colombiano, Mauricio Molina, e um avançado sérvio, Dzenan Radoncic.
Como sempre, as equipas que tiveram sucesso também encontraram o equilíbrio certo entre o talento local e as contratações estrangeiras. De certa forma, isso foi facilitado pela regra do '3 mais 1' que limitava a quatro o número de estrangeiros que podiam ser contratados, pelo que não havia uma grande quantidade de escolha. Três deles podiam vir de qualquer lugar, mas se quisessem um quarto, ele teria de vir de uma nação membro da Confederação Asiática de Futebol.
Voltando ao já mencionado Seongnam, contavam com Sasa Ognenovski. O defesa-central australiano não era apenas fisicamente forte, mas também eficaz em ambas as áreas e um verdadeiro líder. Ele foi tão impressionante que foi nomeado Jogador Asiático do Ano em 2010, algo inédito para um australiano e invulgar para um defesa.
Em pouco tempo, os defesas australianos começaram a surgir no Japão e na Ásia Ocidental – baratos, profissionais e trabalhadores, de repente os australianos tinham um novo destino e não precisavam mais de olhar apenas para a Europa.
O Japão também viu rostos de destaque. Não foi coincidência que a contratação de Andrés Iniesta pelo Vissel Kobe (e David Villa pouco depois) tenha ocorrido numa altura em que o clube procurava o sucesso continental. De facto, o objetivo declarado do Kobe era ser o número um na Ásia. Iniesta pode ter passado o seu auge no Barcelona, mas ele mudou o jogo tanto fora como dentro de campo.
As robustas competições juvenis da J.League produziram jogadores que saltaram do Urawa ou do Kashima para a Bundesliga e depois, por vezes, regressaram para à ACL como heróis. Da mesma forma, os clubes coreanos, com o intuito de salvaguardar o desenvolvimento local, criaram programas de scouting, técnicos e académicos mais avançados.
Mais jogos significam equipas mais profundas. O torneio de primeiro nível agora tem oito jogos de grupo, mais dois do que há dois anos. Sendo a Ásia, há muitas viagens e muitas exigências. Os clubes agora pensam em termos de esquemas de profundidade, exércitos de emprestados e contratações estratégicas. Há jogadores que podem não ser titulares todas as semanas a nível nacional, mas são inestimáveis para navegar na fase de grupos ou para dar um passo em frente numa elimininatóriar em condições de deslocação difíceis.
O Sudeste Asiático Junta-se à Corrida
Se as potências orientais e ocidentais se moveram primeiro, o Sudeste Asiático está a tentar recuperar o atraso. O Buriram United na Tailândia virou-se para o Brasil para obter talento ofensivo. O Johor Darul Ta’zim na Malásia tornou-se um destino para médios argentinos e laterais singapurenses. Estas duas equipas descobriram que podiam ganhar o título em casa sem grandes problemas, e depois concentraram-se em tentar ter sucesso na Ásia.
Eles têm procurado cada vez mais jogadores estrangeiros, o Johor tem optado por jogadores espanhóis de forma significativa. Quanto à equipa do Buriram é mais diversificada, com austríacos, brasileiros, alemães, sérvios, coreanos, filipinos, indonésios, australianos, montenegrinos – é uma verdadeira mistura. A Asian Champions League já percorreu um longo caminho, e os clubes também.
A Ascensão da Arábia Saudita e o Relaxamento das Regulamentações
Agora não há limites para os jogadores estrangeiros na Champions League e os clubes com bolsos fundos podem comprar em qualquer lugar. No momento, a maioria deles está na Arábia Saudita, que está a comprar os melhores talentos das grandes ligas da Europa e não está a olhar tanto para o resto da Ásia.
Apesar dos gastos impressionantes dos clubes sauditas, também houve uma mudança para a aquisição de alguns dos melhores jovens talentos sul-americanos. Em vez de esperar que eles vão para a Europa e paguem um preço elevado - como Marcos Leonardo do Benfica ou Jhon Duran do Aston Villa - eles estão a ir diretamente à fonte e estão a provar ser um primeiro passo cada vez mais popular no estrangeiro..
Adolescentes altamente cotados como Gabriel Carvalho e Wesley Gassova, que teriam tradicionalmente seguido para a Europa, e foram contratações consideráveis para a Saudi Pro League, enquanto o lucro rápido obtido com Equi Fernandez – vendido pelo Al-Qadsiah ao Bayer Leverkusen por 25 milhões de euros apenas um ano após se juntar do Boca Juniors – poderia ser o modelo para o futuro.
Pronto para transformar o seu processo de recrutamento? Saiba mais sobre como usar o Hudl Wyscout para os seus fluxos de trabalho de scouting, recrutamento e avaliação de talentos aqui.